quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

NOTA - DESTAQUE ESPECIAL

UM POUCO SOBRE O GRANDE MÁRIO FILHO

*   Raquel Mendonça

A homenagem que a AMAMS fez ao grande e saudoso artista plástico Mário Filho, o popular “Mário Boy”, como era carinhosamente chamado por todos os seus incontáveis amigos e amigas, como nós, dando à Galeria de Artes da importante entidade regional o seu nome, é mais que justa, mais que merecida!

Conheci Mário Boy de muito perto, ao longo de sua curta (e vasta!) vida e luta pela arte e cultura da cidade! Acompanhei-o, também, na luta contra a doença renal implacável, que o levou muito cedo de nosso meio cultural, que ele tanto enriquecia com a sua presença, o seu talento e o seu trabalho, o chamado “Grafismo”, e que acabou também por levar o seu irmão, Gabriel (foi ele a doar-lhe o rim), que militava, também com intenso brilho, na arte teatral, onde também militou (e atuou), com igual talento e força, por muitos anos, o nosso muito querido e estimado Arthurzinho Júnior, também jornalista de renome e Assessor de Comunicação da AMAMS.

Foi Mário Filho, o nosso Mário Boy, a criar, junto à grande amiga e escultora Felicidade (Feli) Patrocínio, a importante e atuante Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros, colaborando, assim, para a organização, fortalecimento e crescimento de tão importante segmento artístico-cultural da cidade.

Lembro-me com carinho das visitas que ele me fazia sempre, em casa ou na antiga Assessoria Especial de Turismo que eu dirigia na Prefeitura de Montes Claros, mas com os olhos, o interesse, o amor maior e a paixão primeira sempre voltados para a arte, a cultura e a história da cidade. Se era turismo, que fosse o cultural! Mas, claro, trabalhando bravamente, se necessário fosse, em defesa do patrimônio cultural e natural do município! O “Morro Dois Irmãos”, por exemplo, símbolo maior da cidade dos “Montes Claros”, poderia, um dia, nas palavras sábias e densa poesia de Walmor de Paula, ser encontrado na feira, com os seguintes dizeres: “Já se encontra à venda Montes Claros em pó...”

Conversávamos horas seguidas! Ríamos e debatíamos assuntos de interesse cultural os mais diversos! Defendíamos, com “mente e coração”, unhas e dentes, se preciso fosse, a afinal valorização da arte e da cultura na cidade! Chegamos, os dois, a sair pela noite, ele a pichar - na verdade pintar, porque acabava tudo que fazia em verdadeira obra de arte! - ”paredes escolhidas a dedo”, os chamados “paredões”, sem casas ou moradias, pedindo incisivamente, já impacientemente, “Respeitem a Arte e a Cultura da Cidade!” E outras tantas frases similares, de conteúdo unicamente cultural, pu seja, sem a menor agressividade, em apelo a toda população: “Olhem, vejam, apreciem e valorizem a arte da cidade e seus artistas!” Foram dias de trabalho incansável pelas ruas centrais e de bairros da cidade! Eu a acompanhá-lo na noite, como a guardá-lo, protegê-lo até de si mesmo, dando-lhe o apoio de que tanto precisava, porque não se animava a sair pela cidade a “pichar” sozinho, ainda que pela arte que tanto amava!

Já me acostumara a esse tipo de “exercício de apoio artístico”! Afinal, por anos e anos seguidos, era eu a andar noite adentro pelos bares da cidade, a pedido de sua saudosa mãe, a muito querida Dona Joaninha, que me ligava no meio da noite, aflita, buscando ou resgatando o também genial Ray Collares - considerado um dos vinte e cinco melhores artistas plásticos do mundo moderno -, quando não saia pela noite apenas para acompanhá-lo, sossegando, assim, o coração de sua mãe, impedindo-o, muitas vezes, de enveredar pelos caminhos perigosos da droga.

Íamos sempre os dois ao antigo barzinho, na atual Av. Deputado Esteves Rodrigues, o “Kamindicasa”, onde Ray escrevia em papéis inesperados ou mesmo em guardanapos, poemas belíssimos! Lembro-me bem de um deles, este referindo-se a si mesmo e ao amor platônico que nutria por quem o via apenas como amiga, irmã, grande irmã e companheira: “Sou homem da mesma maneira/Quero um grande amor/ Uma mulher/Um filho...”

O coração se aperta e fico pura emoção ao lembrar os dois, ao falar dos dois: um que reuniu em associação artistas e mais artistas plásticos “perdidos” pela cidade que sequer parecia vê-los direito, com a atenção que mereciam; o outro que tanto levou e elevou o nome da cidade de Montes Claros (e de sua querida Grão Mogol, onde nasceu), lá fora, nos grandes centros do país e do mundo!

Parabéns AMAMS, parabéns INTEGRARTE, Elda Aléssio e demais artistas/artesãs associadas, presentes a esta bela Mostra de Arte Mística, homenageando dois anjos e ícones da Igreja, João Paulo II e Irmã Dulce, na Galeria da grande, organizada e politicamente forte entidade, que leva o nome daquele que tanto lutou para ver a arte da cidade (não nos esquecendo de Godofredo Guedes, o nosso grande e generoso Godô, “pai das artes plásticas de Montes Claros e seu próprio pai nas artes plásticas”, como o chamava Ray Collares, além de músico e compositor genial) elevada ao nível de reconhecimento em que hoje se encontra a cultura em toda cidade, não por acaso batizada de “Cidade da Arte e da Cultura” pelo jornalista e nome do teatro, Reginauro Silva: o nosso menino prodígio, altamente polêmico, contestador, corajoso, batalhador, guerreiro de primeira grandeza, eternamente Boy, o nosso Boy, o grande e para sempre Mário Boy, o Mário Filho...

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