segunda-feira, 16 de abril de 2012

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE JOSÉ BARBOSA DOS SANTOS - ZÉ CÔCO DO RIACHÃO - 1912/2012

CRÔNICA INÉDITA (DE 1994) 


E AGORA, SEU ZÉ?

Raquel Mendonça*


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Ele mora ainda ali mesmo, na Rua Bárium, 291-A, Bairro de Lourdes, ao lado de casa onde reside a única filha, Luiza, protetora e espécie de empresária.

Com a mesma simplicidade e sabedoria de sempre, chapéu na cabeça e um “causo” antigo na ponta da língua, está sempre à disposição para contar, com o autêntico linguajar sertanejo, a quem ou quantos o vão visitar, daqui e alhures, de inúmeras partes do país e do mundo, centros avançados ou não.

O sorriso largo ficou meio triste, vezes sombrio, no rosto abatido pela recente doença (embolia cerebral), mas ele parece guardar muita esperança de completa recuperação, longos anos de vida e obra, como gravar um “CD”, com ajuda, diz, do Vereador Eduardo Avelino, autor do projeto que lhe outorgou o justo título de “Cidadão Benemérito de Montes Claros”; fazer mais shows especiais sertão adentro, Brasil afora, além de muita rebeca, viola, violão e cavaquinho, como “luthier” que é, e um verdadeiro “Stradivarius” norte-mineiro!...

“Seu” Zé Côco toca divinamente instrumentos musicais por ele mesmo fabricados, com cuidado e perfeição admirados no país e exterior, de modo especial a viola e a rabeca (ou rebeca), o violino rústico, Mestre que é em ambos – conhecido como “Mestre da Rebeca e da Viola” -, executando como ninguém músicas de Folias de Reis (é Folião desde menino, sua verdadeira “Profissão de Fé”, pois foi dado de presente pelos pais aos Reis Magos ao nascer, no dia 06 de janeiro de 1912...), toadas, calangos, valsas caipiras e velhos lundus à (moda de) viola que parece mágica, em suas mãos, como se vários instrumentos fosse ao mesmo tempo!...

Considerado por cadeia de TV alemã “O Beethoven do Sertão” pela excepcional qualidade e beleza de suas composições musicais, que aprendeu acompanhando as “Folias de Reis” de sua terra natal, o “Riachão”, município de Mirabela, no Norte de Minas Gerais, bem como o som incomparável dos pássaros, a voz singular dos bichos e, como sempre destaca, “o barulho – lindo e melódico murmúrio – cantante das águas puras do seu “Riachão”, perto do qual nasceu; as inúmeras canções populares e caipiras ouvidas e sentidas, desde menino, em casa, tocadas e cantadas por seu pai; a tradição de manifestações puras e legítimas do povo do grande sertão norte-mineiro que amou e acompanhou, desde sempre...

Tem três Lps gravados: “Brasil Puro” (1980), “Zé Côco do Riachão” (1981) e “Vôo das Garças” (1987), além de centenas de músicas inéditas.

Estudado em grandes universidades do mundo, como nos Estados Unidos e Suécia, como verdadeiro fenômeno musical, e tendo despertado o interesse da UFMG há alguns anos no sentido de se realizar um filme-vídeo sobre ele e sua vasta vida e obra, continua, com a mesma simplicidade – e genialidade – de sempre, desenhando o próprio nome (um “J” de José e um coqueirinho, mesmo, simbolizando o Côco do próprio nome), pois nunca estudou, nunca “frequentou” bancos de escola, e compondo, como grande gênio musical que é, (“aprendi a tocar tocando, vendo o meu pai tocar e o Riachão “barulhando” lá embaixo, que era puro encantamento para mim...”), em estilo considerado por grandes críticos do país e do mundo como “sertanejo-erudito”, músicas de beleza excepcional, extraordinária, às de um Beethoven comparadas!

Nenhum compositor popular pôde se alimentar tão farta e generosamente, como ele, do profundamente melódico, suave e doce cheiro dos Gerais, conferindo-lhe o carimbo da brasilidade e autenticidade mais caros e legítimos! E não são poucos os sonhos – muitos sonhos bons e bonitos! - que, aos 82 anos de idade, ainda sonha, e apesar dos sérios problemas de saúde.

Mas a verdade é que o Brasil tem mania de não amar e valorizar o que é verdadeiramente seu (somente seu!), como a música que corre genuinamente na alma, sangue e inspiração incomum de sua gente!

E agora, “Seu” Zé? Não, a festa de ouvi-lo tocar “Dia dos Pais”, “Não me deixe só”, “Saudades do Riachão”, Vôo das Garças” e tantas obras musicais primorosas, que sempre nos despertam a emoção mais profunda, e mesmo o choro, não acabou e não acabará tão cedo!

Com toda fé nos Santos Reis, aos quais pertence!

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Que eles o protejam, “Seu” Zé!...

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Crônica de 1994, encaminhada à UNIMONTES.

“Seu” Zé Côco do Riachão faleceu em 13 de setembro de 1998 e, neste ano, 2012, é comemorado o seu “Centenário de Nascimento”. A Prefeitura de Montes Claros, através da Secretaria Municipal de Cultura, estará realizando grande evento comemorativo do Centenário de seu Nascimento, em 13 de setembro, “O Vôo do Mestre”, projeto definido pelo então Secretário Municipal de Cultura, Ildeu de Jesus Lopes (Ildeu Braúna) e pelo Produtor Cultural Augusto Gonzaga.


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