quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E por falar em Cultura



* por Felicidade Patrocínio


  
Em se tratando de espaço humano, nada é mais importante que a cultura.

Ela própria significa humanidade. É ela toda a construção da realidade, um conjunto complexo a indicar conhecimento, sentimento e comunicação.
  
É a cultura que nos possibilita viver a tridimensionalidade do tempo; a um só momento visualizar o passado, vivenciar o presente e se projetar no futuro.
  
Riqueza maior do que o ouro e o diamante, os símbolos culturais nos preservam da solapagem dos valores, das crenças, dos costumes fundamentais, da beleza das artes, da magia dos ritos tradicionais que constituíram a nossa ancestralidade.
  
Quando preservada e passada de geração a geração, no berço e no cotidiano, traz genuinidade. Transforma-se em patrimônio de um povo, cria parâmetros de identidade, equilibra-o, sensibiliza-o, tornando-o forte, unido.
  
As manifestações culturais, sem dúvida, bebem na fonte da memória e são banhadas no desejo e necessidade de beleza que caracterizam o humano.
  
Por isso devem permanecer, devem ser perpetuadas, devem ser preservadas como patrimônio comum de um grupo social.

No entanto, o capitalismo, com as suas garras vorazes, em busca do incontrolável consumismo, há muito tempo vem se infiltrando nas diversas camadas sociais, impondo adesões a manifestações pseudo culturais efêmeras, vazias de substância humana e de dados identificatórios, confundindo a cabeça e as emoções do consumidor, transformando-o em mero absorvedor de entretenimentos. A força da mídia faz a sua parte, levando o povo a se comportar como massa.
   
No que se refere à cultura da cidade, vivemos esse impasse há bom tempo, mas, como somos um povo forte culturalmente, ainda estamos resistindo, enquanto outras cidades já se entregaram ao "canto das sereias".
  
No entanto, é preciso reconhecer que essa resistência cultural se deve ao trabalho incansável de alguns personagens da terra do pequi.
  
Dentre esses, destaco o nome de Raquel Mendonça que, como ninguém, e antes de todos, desfraldou a bandeira e se entregou de corpo e alma à luta para salvar o que nos resta de verdadeiro, de espontâneo, de autêntico da nossa cultura, tanto no plano material, quanto imaterial.
  
Muito nos admirava e admira sempre vê-la em reuniões com os grupos de catopês, marujos e caboclinhos, apoiando-os na criação da Associação, visando o seu fortalecimento, e combatendo bravamente a descaracterização das nossas centenárias Festas de Agosto; acompanhando os diversos grupos nos seus majestosos desfiles, providenciando soluções de possíveis dificuldades e se emocionando na fé e na beleza. O mesmo vale para os ternos de Folias de Reis e Pastorinhas, aos quais emprestou também apoio técnico à criação de sua Associação.

Muito nos admirava e admira vê-la enfrentar com coragem os ânimos alterados daqueles que eram e são impedidos da derrubada dos prédios tombados como patrimônio de identidade pública.
         
Muito nos admirava e admira o apoio total e incondicional que sempre ofereceu e oferece às artes musicais, literárias, plásticas e outras.
         
Nunca vi uma só solicitação por parte de artesãos, artistas ou fazedores culturais que não tivesse como resposta o esforço solidário de Raquel.
         
E para mais admirar, queremos aqui lembrar da sua preocupação no que se refere ao esclarecimento ao povo em geral, do que vem a ser cultura, a verdadeira cultura, diferenciando-a da indústria cultural, não permitindo que aquela se dissolvesse nesta.
        
Por tudo isso e já que falamos em patrimônio cultural, refletimos a presença de Raquel Mendonça neste espaço como um patrimônio vivo da cultura de Montes Claros.
         
Penso que, como montes-clarense, eu também deva dizer: Obrigada, Raquel!...


* Artista Plástica, cronista, membro-fundadora e ex-presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros e membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros.

domingo, 7 de outubro de 2012

LANÇAMENTO:


LIVRO "A PARTE DO TODO "

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 O grande e admirado poeta José Geraldo Mendonça Júnior, Penninha, filho do querido casal José Geraldo de Souza Lima Mendonça (Zezinho Mendonça) e Nininha Narciso Mendonça, lançará o seu primeiro livro de poemas, "A PARTE DO TODO", pela Editora Catrumano, no próximo dia 10 de outubro, quarta-feira, dentro do 26 "Salão Nacional de Poesia Psiu Poético", que tem à frente o nome do popular poeta Aroldo Pereira, na Galeria de Artes Godofredo Guedes, do Centro Cultural Hermes de Paula (Praça Dr. Chaves ou da Matriz, número 32 - Núcleo Histórico da cidade), livro este que traz rigorosa seleção de poemas escritos por Penninha, a partir de 1982, em sua maioria curtos, tipo "haikais", alguns deles em homenagem a pessoas queridas que passaram, como verdadeiras estrelas luminosas, por sua vida: a saudosa prima e extraordinária cantora, Aline Mendonça ("ESTRELA SOLITÁRIA") e o genial músico e compositor, além de artista plástico (pintor), Godofredo Guedes ("MONTESCLARIAR"). Destaque também para poemas seus que já foram musicados, a exemplo do "BOCA DA NOITE" (Penninha e Nando Correia). 

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Dentro do estilo poético mais sintético do autor, navegando, ao mesmo tempo e harmoniosamente, entre o lógico, lírico e romântico, Penninha faz da síntese um instrumento mais que preciso, precioso, para dizer tudo que envolva cada tema ou poema em poucas, perfeitas e profundamente poéticas palavras, onde deixa clara toda a sua fluência literária e talento indiscutível, n`alguns casos indescritível!... Como bem disse Márcio Adriano Morais, "a doçura do luzir está, sem dúvida, nos olhos poéticos de A PARTE DO TODO". 

A maioria dos poemas que compõem o livro são de amor, onde o autor usa uma poética leve, influenciada por letristas e poetas que tratam sabiamente o tema, sempre de forma lírica e romântica, fazendo uso, ainda, da palavra lógica, na composição e definição de cada poema-obra de arte pura, mas sem jamais ferir, e de nenhuma forma, quem dele faz atenta e prazerosa leitura. 

Uma das coisas que mais chamam a atenção no livro "A Parte do Todo" é que em nenhum poema há uma palavra sequer que reduza ou diminua a pessoa humana, em aspecto algum do "ser" e "viver o amor", pois é uma obra que fala do amor "com amor", com boa e saborosa dose de "amor humano", sim, pois utiliza, tempo inteiro e cuidadosamente, de forma leve e lírica, figuras de linguagem poética que mais e marcantemente tocam o coração e a alma das pessoas! 

A maioria dos poemas foi elaborada ainda de forma artesanal, ou seja, manuscritos, e outros já na fase digital do poeta, que hoje escreve boa parte de seus belos e brilhantes poemas já diretamente nas redes sociais, como o Facebook e Orkut.

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       Parabéns, Penninha, e sucessos, sempre, em sua bela trajetória poético-catrumana!...

Que todos os amantes da arte literária da cidade e região, especialmente os nossos grandes poetas e poetisas, acadêmicos ou não, prestigiem o lançamento do livro de poemas de Penninha, "A Parte do Todo", a partir das 20h00 do próximo dia 10 de outubro (quarta-feira), na grande Galeria de Artes Godofredo Guedes... -


Com admiração e carinho,

Raquel e Babi Mendonça.


OBS.: Aproveitamos a oportunidade para enviar grande abraço e beijo no coração da muito querida Tia Nininha, uma graça de pessoa, sempre carinhosa e atenciosa com todos, pela passagem de seus oitenta anos de vida, em tudo exemplar e digna dos melhores elogios e muitos, muitos e sonoros aplausos!!!

Parabéns, Tia Nininha, felicidades, longos anos de vida, junto a Tio Zezinho e a todos os seus!...

sábado, 6 de outubro de 2012

MAIS ESPÍRITO


* Raquel Mendonça

Mais espírito que corpo, desde que me conheço ou me entendo por gente, tenho por verdadeiro tesouro a parte imaterial do que sou! Este foi e é, sem nenhuma dúvida, meu maior patrimônio pessoal: a minha alma, o espírito em tudo à frente do meu corpo meramente material, no comando maior de minha vida e ações! Somos mais, muito mais do que um simples corpo, ainda aqui, na Terra dos Vivos! E está na Bíblia Sagrada: "O amor excessivo ao dinheiro é o princípio de todos os males!" 

A perfeição, harmonia e equilíbrio das formas sempre me atraíram intensa e imensamente, sim, mas em obras ou criações artísticas! Os valores ligados à vida espiritual ou essencial sempre falaram (ou cantaram!) mais alto e mais profundo dentro de mim, em admiração plena, inteira à inspiração musical, teatral ou artística em geral! Viver, mas viver com alma, veemência de sentimento, paixão, entusiasmo, arrebatamento, que só o amor e a arte nos trazem ou proporcionam! Como não se encher de emoção ao ouvir um Grupo de Seresta, sentindo correr no coração o puro calor das canções populares ou modinhas, que nos leva às lágrimas, muitas vezes?!

O espírito forte me guia, graças a Deus, e a Luz do Divino me protege, no meio das pedras "drummonianas" (algumas rochosas e traiçoeiras...) do caminho diário e, com a calma e paciência humanamente possíveis, consigo ultrapassá-las ou firmemente as "desarmo", se não passam, muitas vezes, de armações montadas por verdadeiros espíritos do mal, infernais; plantadas, propositadamente, perto de nós, no campo pessoal ou profissional. Por isso peço (Salmo 7.7): "Levanta-te, Senhor, na tua ira, e mostra a tua grandeza no meio de meus inimigos! Levanta-te, Senhor, segundo a Lei estabelecida por ti." 

Tem muita gente, por outro lado, que vende a alma ao diabo, o espírito das trevas, por muito pouco ou qualquer ninharia, embora tostão e milhão sejam a mesma coisa no quesito desonestidade ou  corrupção! Disse Jesus: "O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma." (Mt. 16, 26) -

Quantas vezes nos deparamos com almas danadas, verdadeiras almas do demônio, em pessoas perversas, más, cruéis, infinitamente egocêntricas, dissimuladas e manipuladoras, capazes de pensar, sentir, falar - incluídas injúrias, infâmias, calúnias, crimes previstos em lei -, ou fazer o pior contra o outro, até mesmo contra membros honrados e em tudo dignos e corretos da própria família?! Aqueles que têm compromisso com o Bem e a Verdade normalmente se atraem e os maus se dão, sempre, muito bem com os maus! Aqui, vale rezar a São Miguel Arcanjo: "(...) protegei-nos no combate; cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e as ciladas do demônio. Subjugue-o, Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo Divino Poder, precipitai no inferno a Satanás a aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém."

E quantos corações frios há por aí, duros, empedernidos, que sequer se sensibilizam ou se importam com o problema, dor, carência, necessidade ou drama alheio?! Quantas almas perdidas há por aí, e quantos se perdem no meio de vícios - os mais nocivos e destrutivos! -, frutos de estradas ou atalhos errados, apresentando quadros nos quais são comuns vermos, pelas ruas e praças, passando por crises emocionais graves, deles decorrentes, enquanto reações já esperadas ou inesperadas, sem consolo, força, apoio, conforto? Cuidem de nós, também, nas nossas pequenas aflições ou angústias, se às acima comparadas, e continuem nos protegendo, junto a Jesus, Maria e a todos os Santos, as almas boas e benditas dos nossos nos céus!...

O sentido real para a vida não pode estar vinculado ao egoísmo, mentira, maldade e ambição, acomodado dentro da, na verdade, miséria material em que muitos se fecham ou se encastelam, como se infinitamente realizados, constituída de casas e mais casas, prédios e mais prédios, mansões e mais mansões - sem contarem os "fazendões" e as milhares de cabeças de gado e por aí afora, a se perderem de vista, em "fortunas" e moedas que não acabam mais - e, na garagem, alguns "carros de luxo", importados, de preço - a que preço?! - elevadíssimo, mas sem nenhuma - nenhuma! - significação maior!

A vida espiritual, atemporal deve, na verdade, começar aqui na terra, por oposição à pura - tantas vezes e completamente impura - matéria pela matéria! O poder espiritual, natural e eterno deve, assim, nortear as nossas palavras e atitudes, para que, nos despindo de riquezas ou valores terrenos excessivos, possamos readquirir, diariamente, a dose necessária de energia espiritual vital, recobrando a intensidade de alma, o ânimo e a coragem (se necessária a valentia, aliada à sabedoria!) diante das coisas e causas maiores da vida pessoal e profissional! Uma oração de proteção (Salmo 26,1.13-14), que serve a tais ocasiões ou situações: "O Senhor é minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo? (...) Sei que verei os benefícios do Senhor na terra dos vivos! Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!"

 A parte central do ser deve conduzir, pois, a vida como um todo, em sua condição primacial, essencial... de ser! Porque a vida de nada valeria e nenhum sentido teria se não estivéssemos sempre voltados ao caminho dos bons sentimentos e realizações, por mais que nos defrontemos com obstáculos e dificuldades de toda ordem à nossa frente, sem contarem os prejuízos com que, muitas vezes, são "premiados" os "incômodos" trabalhadores honestos!... E o ouro, ouro puro e que realmente vale não está em jóias desprezíveis ou acúmulo sem medida e desprendimento mínimo que seja de bens materiais, mas tão somente nos corações que verdadeiramente Amam o próximo!

Deus que é Mais, é Pai, Nossa Senhora que é Mãe Maior, nos protejam, defendam e guardem dos egoístas, maus, perversos, cruéis e sem o menor escrúpulo moral, movidos apenas pela vã matéria,  completamente despidos, em sua vileza, mesquinhez e pequeneza humana, de espírito, alma, verdade, solidariedade e generosidade!... 



* Membro da Academia Montesclarense de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco - ACLECIA e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros 
IHGMC

terça-feira, 2 de outubro de 2012

AS FESTAS DE AGOSTO

E O FESTIVAL FOLCLÓRICO DE MONTES CLAROS - 2012

* Raquel Mendonça


Não custa nada repetir e insistir em verdade irrefutável: as Festas de Agosto e o Festival Folclórico de Montes Claros são dois eventos culturais completamente distintos, um popular e o outro oficial; um com 173 (cento e setenta e três) anos de existência, o outro com 34 (trinta e quatro); um realizado pelos Catopês, Marujos, Caboclinhos, Mordomos e Festeiros, em casas dos diretamente envolvidos, nas ruas centrais da cidade, Igrejinha do Rosário (Praça Portugal), espaços para festas (onde acontecem os grandes Almoços oferecidos pelos "Festeiros" dos Reinados de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e do Império do Divino Espírito Santo, que membros da Equipe de Eventos da Secretaria de Cultura ajudam a servir) etc, com ainda pequeno apoio financeiro da Prefeitura, diante do necessário ao grande número de membros dos diversos grupos; o outro realizado pela Prefeitura de Montes Claros, através da Secretaria Municipal de Cultura, em várias praças e palcos da cidade... As Festas de Agosto surgiram em 1839, quando Marcelino Alves "pediu licença para tirar esmolas para as festas de Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo, que pretendia fazer - e o fez - nesta freguesia"; o Festival Folclórico foi criado por Clarice Maciel, primeira Diretora do Centro Cultural Hermes de Paula, em gestão de Antônio Lafetá Rebello ("Seu" Toninho), "para aproveitar o movimento das festas", como sempre afirmava, e não para impedir que elas acabassem, como se falou e ainda se fala, pois não corriam este risco e, para o Mestre Zanza, único e autêntico Coordenador das Festas de Agosto de Montes Claros, "o Festival Folclórico acontecendo ao mesmo tempo que as Festas de Agosto só atrapalha, principalmente o Levantamento dos Mastros, que acontece à noite, e o povo, que podia estar lá, vai ver shows, comer e beber, nos palcos e barraquinhas das praças", e não se cansa de repetir: "por que eles não fazem o Festival antes ou depois das Festas de Agosto, que são religiosas, em homenagem aos santos de nossa devoção?!"

Cheguei a ouvir algumas vezes uma verdadeira aberração, fruto da mais profunda ignorância cultural e da presunção e prepotência que dominam, normalmente, pessoas despreparadas para atuarem nesta área, tão séria, fundamental e prioritária: "as Festas de Agosto não passam de um mero item da programação do Festival Folclórico!..." Muitas ações e propagações, ainda hoje, tentam "confirmar" esta "estória" estapafúrdia, como se as Festas de Agosto fossem promoção da Prefeitura, e na qual gente séria, até mesmo da imprensa, onde também atuo há mais de quarenta anos, acredita.

No período de 14 a 19 de agosto de 2012, aconteceram, pois, na cidade, as "Festas de Agosto de Montes Claros", consideradas a maior e mais importante manifestação cultural popular e tradicional do município, com 173 anos de existência e resistência a inúmeras tentativas de descaracterização, intervenção ou cooptação indevidas, ao longo dos tempos, por meio de ingerências culturais de toda espécie e partindo de vários setores, que insistem em "inter-ferir" nas grandiosas Festas ao povo pertencentes, agregando-as, equivocada e irregularmente, ao também grande Festival...

O maior nome das Festas de Agosto é, sem dúvida, o conhecido e admirado "Mestre Zanza" (João Pimenta dos Santos), Chefe do Primeiro Grupo de Catopês de Nossa Senhora do Rosário e presidente da importante Associação dos Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros (tivemos a honra de dar apoio técnico à sua criação, com Joba Costa, junto aos Mestres), que comanda as Festas, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura/Prefeitura de Montes Claros, através de ajuda financeira (neste ano foram destinados R$ 30.000,00 - trinta mil reais - para os seis grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos, com mais de trezentos integrantes, em seu total), e da Equipe de Eventos, coordenada pelo nome de Marilene Mourão (que sempre apoiou, discretamente, Mordomos e Festeiros, em suas sagradas missões nas Festas), equipe esta que ajuda na organização dos Cortejos de Príncipes e Princesas - embora um(a) ou outro(a) exagere absurdamente na dose, como afastando, aos berros, mães de pequenos príncipes e princesas, sem as quais os mesmos não desfilam, e é tradição que elas, as mães, possam segurar-lhes a mão, quando necessário... -, bem como na confecção de peças concebidas pelo Setor de Artes Visuais da Secretaria, para enfeitar as ruas centrais da cidade, por onde passam e são saudados pela população e inúmeros visitantes de diversas partes do país e do mundo os três grupos de Catopês (dois de Nossa Senhora do Rosário e um de São Benedito), as duas Marujadas e a Caboclada; de modo especial, os Chefes dos Catopês; além de Mestre Zanza, há os Mestres João Faria e Zé Expedito; das Marujadas, Mestres Tim e Tony Cachoeira; da Caboclada, a Cacicona Socorro, assim como os Reinados e Império, peças estas em que se destacam os estandartes dos santos homenageados e as "saias de fitas", ou seja, as belas fitas coloridas dos catopês ou dançantes - símbolo primeiro das Festas -, considerados estes, os catopês, desde o seu início, os "Donos das Festas de Agosto de Montes Claros", mesmo congado/zumbi/moçambique de outros lugares, com características regionais, e outros elementos decorativos mais referentes às famosas Festas. 

Mestre Zanza realizou, como deve ser, reuniões com as famílias festeiras e de mordomos, na sede da Associação dos Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos, situada na Rua Humaitá, 126, com Santa Efigênia, no Bairro Morrinho, para que tudo saísse conforme a tradição das Festas e as definições finais do Mestre maior.

Por outro lado, a Secretaria de Cultura realizou, paralelamente às Festas de Agosto, o Festival Folclórico de Montes Claros, em sua 34a. edição, no Coreto da Praça Dr. Chaves/da Matriz (neste ano também no Corredor Cultural Padre Dudu, Rua Cel. Celestino e adjacências), Praça Dr. Carlos, Mercado Municipal Christo Raeff e também na Praça Portugal da Igrejinha do Rosário e dos Catopês, com diversos shows de música, dança e outros espetáculos culturais, alguns deles contestados na mídia por conhecidos Folcloristas, porque completamente dissociados da cultura popular; barraquinhas de comidas típicas e muitas outras atrações, que deveriam ser sempre relacionadas ao Folclore, ou seja, ao "Fazer do Povo" (Cultura Popular), embora se apresentem nomes ou grupos contrastantes (não folclóricos...), até mesmo agressivos, em seus estilos, às Festas Religiosas, de importância infinitamente maior em todos os aspectos, na verdade em tudo superior, aos demais eventos de agosto!... 

Paralelamente às Festas de Agosto, aconteceu ainda, neste ano, o evento "A Gosto da Unimontes", com programação no "Sobrado da Escola Normal/FAFIL" ou prédio da FAFIL, na Rua Coronel Celestino, número 75 - Corredor Cultural/Centro Histórico da cidade.

As Festas de Agosto, de fundamentação religiosa, parte importante do Catolicismo Popular da cidade, contam com o "Reinado de Nossa Senhora do Rosário" (neste ano realizado no dia 16 de agosto - quinta-feira); o "Reinado de São Benedito" (17 - sexta-feira) e o "Império do Divino Espírito Santo" (18 - sábado), que saem da Praça Dr. João Alves, em frente ao Automóvel Clube, há bastante tempo, em torno das nove horas da manhã, até a Igrejinha do Rosário, atrás de séquito de príncipes e princesas, acompanhados pela Banda de Música do 10. Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, o que abrilhanta em muito, anualmente, o tradicional evento cultural. Na "Igrejinha dos Catopês", a Capela de Nossa Senhora do Rosário, na Praça Portugal, há missas, bênçãos e levantamento dos três mastros (às 19:00 do dia 15, Mastro de Nossa Senhora do Rosário; no dia 16, Mastro de São Benedito e no dia 17, Mastro do Divino Espírito Santo) e onde, no último dia de festa, dia 19 neste ano, depois da "Procissão de Encerramento", a partir das 16:00 horas - com participação especial de grupos de congadeiros convidados ao "Encontro Mineiro de Ternos de Congado", que se realiza na manhã de domingo, na sede da Associação dos Catopês -, acontece o sorteio ou solicitação das três "Famílias" Festeiras e Mordomos para o ano seguinte, correspondentes aos três santos de devoção dos Catopês, Marujos e Caboclinhos, como reza a festa, em suas quase bicentenárias regras de organização, preservação e promoção!...


OS FESTEIROS


Os Festeiros de Nossa Senhora do Rosário, que, conforme prega a tradição das Festas - Religiosas - de Agosto, são famílias da cidade, foram, neste ano, os casais Leonardo Linhares Drummond Machado/Katherine Vieira Noronha Machado, pais do "Rei de Nossa Senhora do Rosário", João Pedro Linhares Noronha Machado; Geraldo Silvano Ferreira/Eliete Aparecida Soares Ribeiro, pais da "Rainha de Nossa Senhora do Rosário", Priscila Maria Soares da Silva, com apoio da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES que, como toda escola, em todos os níveis de ensino, deve contribuir para o fortalecimento da importante e imprescindível tarefa de "Educação Patrimonial" na cidade, através do necessário conhecimento sobre as mais que significativas e expressivas "Festas de Agosto de Montes Claros", quanto às suas principais características e fundamentações, que geram tanta beleza e riqueza culturais! 



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Os Festeiros de São Benedito foram Jackson Leite Madureira e Sandra Ladeia Costa Madureira, pais do "Rei de São Benedito", Caio José Costa Madureira, e o casal Edson Roberto de Oliveira e Sandra Gracy Davi Vasconcelos Oliveira, pais da "Rainha de São Benedito", Laís Vasconcelos Oliveira. O Reinado de São Benedito teve o apoio do cidadão e político Marcos Maia.


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Os Festeiros do Divino Espírito Santo foram o casal Ângela Assis Martins (montes-clarense, filha de Rosângela Veloso Assis Martins e Américo Martins Filho) e o norte americano Robert Gregory, pais da "Imperatriz do Divino", Sophia Martins Gregory, nascida em Nova Iorque, mas de família materna e coração montes-clarenses, festeiros estes que, por residirem em Nova Yorque, foram aqui muito bem representados pela mãe da Festeira, Ângela - ex Rainha de Nossa Senhora do Rosário -, Rosângela Veloso Assis Martins. Também grandes festeiros do Divino, os nomes de Rosany Godinho Nunes Avelar Coelho e Afonso Carlos Avelar Coelho, pais do "Imperador do Divino", Afonso Carlos Nunes Coelho, com apoio especial - mais uma vez - também da vovó Beatriz Avelar.



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As Festas de Agosto de Montes Claros, Bem Cultural Imaterial dos mais expressivos e significativos não somente da cidade e do estado, mas também do país, pois o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, quando tinha como Superintendente o renomado historiador montes-clarense, Fabiano Lopes de Paula, chegou a sugerir, há alguns anos atrás, que as Festas de Agosto fossem, com toda justiça, registradas como "Bem Cultural Imaterial da União", através do IPHAN, por sua extraordinária importância cultural! 


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E, por favor, se alguma escola da cidade quiser "homenagear" os Catopês, Marujos e Caboclinhos das nossas maravilhosas Festas de Agosto de forma bonita e acertada, ao invés de participarem do desfile uniformizados, como se festa fosse de 7 de setembro, carregando faixas, o que descaracteriza as Festas de Agosto, convide alunos à livre participação dos cortejos de príncipes e princesas das três festas ou ao acompanhamento de todo o desfile, até a Igreja, embora respeitosa e afastadamente. Outra maneira correta é convidando Folcloristas ou Historiadores da cidade para proferirem palestras sobre as Festas de Agosto na escola, estimulando a pesquisa e a aprendizagem, e buscando, assim, maior compreensão e entendimento das festas!



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Qualquer espécie de descaracterização das Festas de Agosto, até mesmo a simples mistura de outros santos não nesta data homenageados, contribui, sim, mas para o seu empobrecimento e até mesmo desaparecimento, o que ninguém que ama, entende, realmente apoia e respeita as Festas quer!...  


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É preciso guardar, manter e reverenciar uma tradição cultural tão emocionante, excepcional e especial da cidade, que reúne, tradicionalmente, famílias que conhecem e reconhecem o valor e importância únicos das esplêndidas Festas de Agosto de Montes Claros, com os seus Catopês ou Dançantes, Marujos ou Marujada, Caboclinhos ou Caboclada!...



"Viva o Divino
Meu Santim querido
É os teus milagre
Que tem me valido!..."

"A retirada!
A retirada!
Ê, meus camarada!
Ê, meus camarada!..."

"Adeus, adeus, não chores não
Para o ano eu voltarei
Pra cumprir nova "missão"!"

"Adeus, até para o ano
Adeus, até para o ano
Adeus, até para o ano..."

1960 - ANO DOURADO


* HAROLDO LÍVIO

        
Resumo do Brasil no ano de 1960: Bossa Nova na música popular brasileira; Cinema Novo na tela; e JK inaugurando Brasília. Resumo de Montes Claros no ano de 1960: lançamento da Revista Encontro; inauguração do Cine Fátima; fundação do Conservatório Lorenzo Fernandez; e, lamentavelmente, a perda da Capela do Rosário, relíquia da história da cidade. De um encontro marcado de quatro jovens montes-clarenses, Décio Gonçalves de Queiroz, Waldyr Senna Batista, Enock Fernandes Sacramento e Lúcio Marcos Benquerer, em um escritório de Belo Horizonte, resultou a fundação da mais nova revista brasileira que, obviamente, nasceu com o nome de Revista Encontro. A publicação chegou em junho de 1960 e conquistou a simpatia e a preferência do público desde o primeiro número, cujo conteúdo foi a manipulação perfeita da receita ideal formulada pelo próprio leitor. Montes Claros, que já percorria a grande caminhada para o futuro, foi presenteada pelos editores com uma revista mensal que se tornou motivo de orgulho para todos que militavam na imprensa. Tudo nela, da capa à quarta capa, era moderno, avançado e revolucionário. Tinha redação, composição, paginação e ilustração impecáveis. Dava-se ao luxo de ter os anúncios comerciais ilustrados pela pena de Konstantin Christoff, um fundador que não pôde comparecer à reunião de fundação, embora tenha sido um verdadeiro patrono da revista. Lúcio Benquerer editou até que sua empresa exigiu dedicação integral aos negócios e foi substituído pelo jornalista Carlos Lindemberg, aí por volta de 1965. Mais tarde, dois anos depois, o novo diretor foi sucedido pelos jornalistas Jorge Silveira e Fernando Zuba. Infelizmente, a crise cíclica que fechou O Cruzeiro, Alterosa, Realidade, Visão e outros magazines de circulação nacional também fulminou a Revista Encontro, que merece ser lembrada nestes cinquenta anos de fundação, pela grande e inegável importância que alcançou em uma década de circulação a serviço da cidade e da região, sempre colocando o serviço público acima de tudo. Encontro fechou mantendo o mesmo conceito que passou a desfrutar desde o primeiro número. Conversando com o mestre Konstantin, ele se queixou de que as pessoas já se esqueceram de nossa revista. Gostaria de ter dito a ele que não é bem assim; porém calei-me, pois é a verdade.
        
O segundo presente para Montes Claros, no ano dadivoso de 1960, foi a inauguração do Cine Fátima, na Rua Dom Pedro II. Poderia ter sido inaugurado na Times Square, na Broadway, em Nova York, porque era a última palavra em conforto para o público e em tecnologia. Quem nos presenteou foi o empresário Euler de Araújo Lafetá que não teve mãos a medir nos gastos de instalação da monumental sala de espetáculos que contava com 1300 poltronas estofadas, ar-condicionado, som estereofônico de quatro faixas e tela flutuante. Foi projetado para os próximos 50 anos, que já passaram e poderia estar funcionando até hoje, na vanguarda. Neste caso, éramos felizes e sabíamos muito bem disso. O terceiro presente, digno de reis, foi a fundação do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, materializado no momento histórico em que o prefeito Simeão Ribeiro Pires, cultor das ciências, letras e artes, entregou à fundadora Marina Lorenzo Fernandez Silva as chaves da casa que a municipalidade desapropriou para funcionamento do novel estabelecimento de ensino. O decurso do tempo confirmou a importância social do evento, impulsionando o desabrochar de vocações que poderiam ter se perdido, se não existisse a sementeira representada pelo CELF, de que a cidade tanto se ufana, por seus cantos e encantos. Como não há rosas sem espinhos, registram-se os 50 anos da derrubada da Capela de Nossa Senhora do Rosário, na Avenida Coronel Prates, por uma decisão administrativa que, desafortunadamente, errou com a intenção de acertar na solução de um problema viário. O templo estaria mal colocado em relação ao alinhamento da via pública e seria preferível sua demolição para construir no local outro com maior visibilidade para o trânsito. Assim foi pensado e executado. E as picaretas e tratores derrubaram as paredes da casa santa onde Deus fez a morada e onde moram o cálix bento e a hóstia consagrada. E onde moram os catopês, marujos e caboclinhos da festa de agosto: Joaquim Poló, Aníbal Carroceiro, Mané Quatrocento, Maria da Custodinha, Miguel Marujo... E onde também moram os mordomos e festeiros Hermes de Paula, Geraldo Athayde, Darcy Ribeiro, Cyro dos Anjos, Raimundo Chaves, Newton Prates... E onde ainda, bem adiante no futuro, deverão morar Ucho Ribeiro, Yuri Popoff, Paulo Narciso, Roy Chaves, Bernardo Brant, Tico Lopes, Zezé Colares, Yara Tupinambá, Tino Gomes, Georgino Júnior, Paulo Henrique Souto, Raquel Mendonça e mais devotos que, de qualquer forma, vêm segurando a tradição de agosto. (11/2011)

* Membro do IHGMC


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