quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CONVITE:

 EXPOSIÇÃO DO ARTISTA PLÁSTICO ROGÉRIO FIGUEIREDO 


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Venha ver a beleza das imagens do passado e do presente de Montes Claros e do Norte de Minas, sob o olhar estético deste renomado artista. A abertura será no próximo sábado dia 29/11/2013 às 20 horas no Ateliê-Galeria Felicidade Patrocinio. 

Você é nosso convidado(a)! Aguardamos sua presença!!!

domingo, 10 de novembro de 2013

SOBRE TIÃO ROCHA, DO CPCD

Republicamos matéria especial (Gerais Especial/"Mineiros de Ouro"/Estado de Minas, sábado, 2 de outubro...) sobre o grande antropólogo e educador Tião Rocha, membro da Comissão Mineira de Folclore - CML, que presidiu, lembrando a sua sempre destacada participação e ação em importantes "Encontros Populares de Cultura" em BH e país afora, bem como em "Congressos Nacionais de Folclore", em que tinha a honra de sua amizade e companhia, como o oitavo Congresso, realizado em Salvador, onde a sua visão excepcional de mundo e longa experiência culturais tinham indiscutível peso e importância, especialmente nos debates, aos quais dava generosa e inesquecível "mão ou dedo de brilho e sabedoria".

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TIÃO ROCHA - EDUCADOR SEM ESCOLA


* Maurício Lara

- "Há sempre um contrafluxo puxando para trás, mas é preciso ousar, ir além, dar mais um passo! É preciso teimosia e permanência constantes." (Tião Rocha) -

Criador de projeto que ignora normas convencionais de ensino fala de sua experiência em benefício das crianças e que ganhou o mundo

Quando começou a frequentar escola, aos 7 anos, o antropólogo e educador popular Tião Rocha sentiu o primeiro incômodo na aula em que a professora falava de reis e rainhas. Ele tentou contar que sua tia também era uma rainha, no caso, do congado, mas a professora não deu ouvidos. Ele teve que se calar. Vida afora, tentou outras vezes falar da tia rainha em sala de aula e ninguém dava importância. "No curso de história, estudei sobre reis e rainhas", lembra Tião Rocha, que queria mesmo era conhecer histórias como a da tia rainha. Depois, estudou antropologia, encontrou a cultura popular e mudou o rumo de sua trajetória.

"O que eu estudava parecia que não era minha vida. Tomei a decisão de romper", explica. O passo seguinte foi deixar a universidade em que lecionava e fundar o CENTRO POPULAR DE CULTURA E DESENVOLVIMENTO - CPCD, há 29 anos, na casa em que nasceu, no Bairro Santa Tereza. "Não me interessa a história como a da burguesia e das revoluções antes de conhecer a história de meus alunos", diz ele, que insiste na afirmação inspirada no Grande Sertão - Veredas de João Guimarães Rosa: "Professor é aquele que ensina e educador é o que aprende." Por isso, informa ele, o CPCD é movido a perguntas".

Tião Rocha viajou para Curvelo, justamente em busca de personagens roseanos. Lá, fez a pergunta: "De onde sai tanto menino?". E ouviu a resposta óbvia: "De onde saem todas as crianças". Mas, para a pergunta seguinte não havia resposta: "Para onde vão tantas crianças?". Por essa época, começou o Projeto Sementinha, que funcionava, literal e metaforicamente, debaixo do pé de manga. Ele se perguntava se era possível fazer educação sem escola e tinha dúvidas: mas tinha certeza de que não era possível fazer educação sem bons educadores.

Membros da comunidade começaram a discutir educação em uma roda, debaixo de qualquer árvore. E a buscar respostas para as perguntas que iam surgindo. Será que a criança poderia aprender brincando? Veio, então, o projeto Ser Criança. Para Tião Rocha, função de menino é brincar, como a de passarinho é voar. "A ideia dos encontros era criar um ambiente amplo de participação. Construímos o que chamamos de `pedagogia da roda`. Virou projeto e, depois, política pública." Na busca das respostas, outras pedagogias vieram: do brinquedo, do sabão, do abraço.

Hoje, quando as atividades do CPCD estão espalhadas por dezenas de municípios de cinco estados (Minas, Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Maranhão), além de Angola e Moçambique, o educador mostra, com orgulho, a pequena e simbólica obra de O menino passarinho, criada em Curvelo, por Marquinho, aos 11 anos. Feita com um pedaço de madeira, palha de bananeira e arame, a peça mostra uma criança empinando uma pipa, que é praticamente uma extensão do braço. Já era o resultado das unidades produtivas da Cooperativa Dedo de Gente, outra obra de Tião Rocha.

Em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, o desafio era melhorar a aprendizagem da meninada, porque só 3,3% dela atingiam o grau de suficiência pelas medidas oficiais. "Montamos uma UTI educacional", conta. Um exemplo das ações surgiu, segundo ele, da conversa com uma moradora que fazia biscoito de goma, que ela chamava de "biscoito escrevido", pela forma final do biscoito. Pois foi fazendo biscoito escrevido que os meninos aprenderam a escrever o próprio nome. O prêmio era comer o biscoito. "Aprenderam rapidinho a escrever o nome", diverte-se o educador, lembrando que era melhor para os que tinham nome com muitas letras, porque o biscoito ficava maior. E ele tem um monte de outras histórias para contar.

"Tiramos aqueles meninos da UTI ou da morte cívica do analfabetismo precoce", garante. O caminho, na avaliação dele, é criar uma plataforma a partir dos recursos disponíveis, para transformar a realidade. O objetivo é chegar ao outro extremo, de cidade educativa. Tião Rocha questiona o ìndice de Desenvolvimento Humano (IDH), no qual as palavras principais seriam acolhimento, convivência, aprendizagem e oportunidade.

Aos 65 anos, Tião mantém a trajetória escolhida há 29 anos - "quero fazer transformação social" - e afirma que fechou a equação da tia rainha do congado (o mesmo Catopê da nossa Montes Claros...), que tanto o intrigara, a partir da importância da história de cada pessoa. Ressalva que há sempre "um contrafluxo puxando para trás", mas quer continuar. É preciso ousar, ir além, dar mais um passo." Para ele, é preciso "teimosia e permanência constantes".

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OBS.: Que você, amigo Tião, sirva sempre de boa lição e semente a Montes Claros e ao mundo, na área de educação e da mais autêntica e bela cultura popular do país!...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CRÔNICA:

PRÓXIMA NOTÍCIA DE MONTES CLAROS 

Lendo a crônica Notícia de jornal, de Fernando Sabino, começo a refletir sobre uma cena a qual assisti há alguns dias. O mesmo homem de Sabino, caído ao chão, morto de fome, é o mesmo mendigo-senhor com quem eu e outras pessoas nos esbarramos às seis e cinquenta da manhã, diferindo que este mendigo ainda está vivo deitado no banco da praça. Quantos anos ele tem? A sua face, com certeza, aparenta bem mais do que os dias lhe têm dito. Seu corpo é jogado de um lado e tão assustadora é sua magreza que é possível fazer se confundir seu corpo quando visto de perfil e de frente. O mendigo-senhor está ali há tantos dias que as pessoas já se acostumaram a não perceber sua presença em seus caminhos. Com apenas dez minutos faltando para a sete da manhã, encostado em um poste de luz, comecei a observar que algumas pessoas sentem medo de olhá-lo e se denunciarem cúmplices da injusta pobreza; outras não veem sequer no rosto do senhor de rua a fome que o destrói por fora e por dentro de sua pele. Há também aquelas que declaram serem os mendigos que não aceitam sair das ruas; são eles quem decide se vão ou não passar fome ou, até mesmo, morrer como o mendigo de Sabino. O mendigo-senhor precisa de tão pouco esforço para não se fazer notado que ele busca a ocupar-se de outras coisas: latir mais alto que um cão, andar melhor do que um gato e ser mais que um rato. Ainda, o mendigo-senhor se preocupa com aquela fome que o transforma em mais um bicho de Manuel Bandeira. Com o fim de dez minutos, eu permaneço ali, olhando para ele, que está olhando para o homem da padaria que, por sua vez, não sabe que o mendigo-senhor saliva por seu pão, enquanto outro homem, a dez minutos de seu trabalho, o observa de um poste de luz. O mendigo-senhor continuará sentindo a fome, as pessoas continuarão negando sua presença, e a sociedade continuará saciando a sua fome com apenas apelos levantados em cartazes ou distribuídos em palavras. Não só de palavras vive o homem, mas também do pão de cada dia, do alimento de cada mesa. O mendigo-senhor continua a lutar pela sobrevivência, até o dia - não se sabe - que a próxima notícia de jornal seja a de sua história.

Stefani Moreira Aquino Toledo
Graduanda em Letras/Inglês - Unimontes

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