sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Crônica

- ABRAÇOS VIRTUAIS -

Foi numa tarde de janeiro, em um banco da Praça da Matriz. Ouviam-se murmúrios e palavras sussurradas bem no cantinho do ouvido um do outro. Ele era o gentleman, e ela, a lady. Estavam apaixonados assim como Romeu e Julieta. Os gestos, os carinhos, os abraços, os beijos: tudo estava em perfeita harmonia.

O amor, tão caro e raro nesses últimos dias, estava demasiado presente nos olhares íntimos que eram trocados e - não sei dizer – mas, sem perceberem, denunciavam às outras pessoas o momento compartilhado entre os dois corações. As palavras – bem perto da cena, ouço-as fingindo folhear um jornal – eram sutis e carregadas de paixão. Três palavras – a primeira e a segunda de duas letras e a terceira de três – foram pronunciadas, e um “I love you” foi dito duas vezes.

Nesse mundo contemporâneo, pego-me pensando se os olhares ainda continuam sendo trocados, se as pessoas ainda sentem necessidade de se tocarem para sentir o calor humano em um simples aperto de mão. Não há mais tempo para os detalhes da vida; não há mais tempo para um gesto poético. Para ser aceita na vida de amigos, preciso enviá-los convites e devo aguardar a aceitação, o que pode levar dias caso não haja acesso à internet diariamente. Conversas? Podem ser reduzidas a mensagens instantâneas ou deixadas esquecidas em um inbox que, novamente, não se sabe se serão visualizadas. Tampouco se sabe se emoticons poderão substituir sentimentos verdadeiramente puros.

Há aqueles que, mesmo estando uns ao lado dos outros, preferem a conexão via wi-fi. Em um restaurante, se quero que me passe o sal, posto o pedido online e, em segundos, tenho o seu like. Se seu namorado quer te mandar flores, ele, depois de te marcar, compartilha uma foto de um buquê de rosas vermelhas, e você se declara usando #hashtags e todas as contrações das palavras possíveis. Claro que há mais para se considerar nesse mundo virtual em que as pessoas são adicionadas porque tem amigos em comum, ou não.

Ao tirar foto com os meus olhos do casal enamorado, ainda encontro esperança para que o amor continue acontecendo entre as pessoas pelos abraços apertados, sorrisos sinceros e sentimentos experimentados quando face a face. Já li que “as mais belas coisas foram ditas bem perto do ouvido de alguém”, e a lady e o gentleman estavam acabando de provar pelos sons emitidos que as palavras ainda ficarão no ar por um bom tempo, até que, quem sabe, outras pessoas possam sentir o sussurro dessas palavras de amor também.



Stefani Moreira Aquino Toledo - 
Graduanda em Letras/Inglês - Unimontes

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