segunda-feira, 13 de abril de 2015

“A Agonia do Velho Chico. Salvem-me! Para que eu possa salvar vocês!"

Exposição de Fotografias Instituto Vidas Áridas

Mara Narciso*

            Era tão normal visitar as cidades de Pirapora, São Francisco e Januária e achar aquela imensidão de água e navegabilidade. Montes Claros está a cerca de 140 km em linha reta do Rio São Francisco, o Rio da Integração Nacional, e, ao vê-lo morrendo ficamos nos perguntando como ele resistiu por tanto tempo aos descasos e agressões seculares. Agora, jaz enfermo, parcialmente morto. Vendo-o comatoso, entendemos o quanto fomos estúpidos.          
Alcides Alves da Cruz, meu pai, foi criado às suas margens, em Januária. Nadava bem, e numa ocasião salvou um homem de afogamento, trazendo-o do meio do Rio para a margem. Memória heróica. Já a minha mãe, Milena Narciso Cruz, não sabia nadar, e contava de uma experiência no Rio São Francisco, quando nem conhecia meu pai. Foi num grupo da escola fazer um passeio, e um rapaz, após o almoço, saltou da canoa onde as moças estavam, e mergulhou para sempre em suas águas. Lembrança trágica.
            Fiz muitos passeios ao Rio, e me lembro do que ele me deu: surubins, dourados, vesperata, viagens no Benjamin Guimarães, embarcação centenária a qual chamam “gaiola”, travessias de balsa em Pedras de Maria da Cruz, passagem pela ponte entre os estados de Sergipe e Alagoas, em Propriá, e lá atrás, de um lado Juazeiro, na Bahia e do outro Petrolina, em Pernambuco. Outro local diferente é Barra de Guaicuí, próxima de Pirapora, às margens do seu principal afluente, o Rio das Velhas, onde há uma igreja inacabada, com a impressionante árvore no topo do paredão, com suas raízes incrustadas na pedra. Temos ainda as músicas inspiradas em coisas boas e más: “Sobradinho” de Sá e Guarabira (“O homem chega e já destrói a natureza, tira gente e põe represa, diz que tudo vai mudar”) ou “O Gaiola” de Josecé Santos (“Eh, lá vai o gaiola, carregando na bagagem esperança e nostalgia, sai de Pirapora, seu destino é Juazeiro na Bahia”).
            São tantos os cenários. Não conheço o Rio em São Romão, Manga, ou Bom Jesus da Lapa, tão famosa por suas romarias. E nem em Três Marias, usina hidrelétrica que chegou a ter 3% do seu volume habitual de água. O nosso Rio é quase um retrato na parede, como mencionou Drummond ao se referir a sua Itabira. Nós o destruímos.
            Começou como inquietação, seguida de exposição de fotografias há três anos.  Depois Vidas Áridas virou expedição, e caminha como instituto, levando a bandeira “O sertanejo tem fome de água”. A louvável iniciativa de registrar a degradação do Velho Chico, alertar e sensibilizar a população e o governo para que tomem consciência e dela resulte em revitalização, veio de Délio Pinheiro, Geraldo Humberto e Soter Magno, e ganhou boas dimensão e repercussão. A primeira viagem foi em julho de 2014. Agora, a terceira exposição de fotografias, em cartaz de oito a 19 de abril, resultado das suas andanças de mais de três mil km ao longo do Rio São Francisco, está no Montes Claros Shopping Center, e vai ser mostrada em outras cidades, inclusive em Brasília. Os trabalhos desses voluntários ambientalistas, fotógrafos e gente da imprensa já rendem seus frutos, atraindo a atenção do Brasil.
Vidas Áridas estava hoje no Programa Nossa Arte Nossa Gente, da Rádio Unimontes, falando do que já fizeram – palestras em escolas, promovendo a educação de crianças para a preservação e uso racional da água-, assim como estimulando ações de recuperação tais como o cercamento de nascentes em toda Minas Gerais, e limpeza de ribeirões, afluentes de rios que irão para o Rio São Francisco, uma grande calha. Desta forma, não mais discutem a transposição, da qual são contra, pois consideram que são “águas passadas”, e lutam pelo que ainda resta. Antônio Jackson Borges, do Comitê da Bacia do São Francisco, alagoano de nascimento e mineiro de alma, acredita que o projeto, que já consumiu mais bilhões do que era previsto, deverá ser abandonado, pois a vazão do rio se reduziu a quase nada. Diante da desolação, a Expedição Vidas Áridas encontrou ações individuais animadoras.
            Que todos olhem para o nosso Rio, e reduzam o despejamento de dejetos em seu leito, recuperem as suas margens do assoreamento, reflorestem, reponham a sua fauna, propiciem uma melhora das suas águas. E que os governos providenciem políticas públicas eficazes, leis que as regulamentem e que multas sejam executadas em favor do Rio.
A mostra fotográfica do Rio São Francisco destruído, que chora sua dor de lágrimas tão secas quanto seu manancial hídrico, com suas imagens chocantes e tétricas traz um choro amargo de repugnância de nós mesmos. E que os ribeirinhos e demais moradores sedentos do norte de Minas, lamentem sua destruição, mas atuem. Assim poderão ser salvos por ele, desde que o salvem.



DIVULGAÇÃO

Olá amigos,

Informamos que estamos trabalhando no projeto de revitalização da praça de Esportes com o objetivo de transformar aquele logradouro num local de lazer, descontração e encontro de amigos. Com muitas atividades esportivas e culturais, no próximo dia 25/05 daremos início ao nosso novo projeto intitulado CULTURA NA PRAÇA, na Praça de Esportes a partir das 11;30hs com uma feijoada animada pela Banda AFINASAMBA. 

A entrada com convite é franca e a Feijoada completa custa R$ 12,00.

Contatos: 9142-7329 ou 3084-7896

Grande abraço,

Josecé Santos (coordenador do projeto)



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