quarta-feira, 15 de junho de 2016

Crime Racial: Pobre e Podre Preconceito

* Raquel Mendonça


Nada há mais pobre e podre, de tão pequeno, velho e putrefato, do que os famigerados - "inveterados e falsamente legitimados", como diria Camilo Castelo Branco - preconceitos de raça/cor, credo/religião, condição sócio-econômica, orientação sexual, etc. E quão arraigados, radicados, profundamente entranhados estão tais preconceitos, na mente e coração de um número assustador de pessoas em nosso redor ou espalhadas pelo país e mundo inteiro!

Quando participávamos de Encontros Populares de Cultura Brasil afora, sempre nos inscrevíamos em "Arte Popular" e "Preconceito de Cor", fazendo questão de debater a necessidade de valorização da cultura popular e suas ricas, extraordinárias manifestações - toda "a peleja do bumba meu boi contra o vampiro do meio dia" - e a busca pelo fim da inacreditável segregação racial, tendo sido questionada, certa vez, por uma das mulheres negras participantes do debate: "o que essa loura está fazendo aqui?!" "O mesmo que você, respondi, já que não sou apenas branca, mas negra e índia também, porque brasileira, aliás, a minha alma tem o traço de todas as cores e raças do mundo!", disse. E li, nessa ocasião, ao retomar a palavra, o maravilhoso e aplaudido manifesto de Ângela Márcia Braga, amiga e também jornalista, militante do movimento negro tanto quanto eu! A cor da pele é somente isso e nada mais do que isso: a cor da pele!...

O preconceito de cor é tão devastador que, por mais que sejamos dele testemunha ou tomemos conhecimento de algum crime racial, como o que vitimou absurdamente Frederico Antônio Nunes e seu filho de dezesseis anos, dentro e fora de uma joalheria situada próximo à Praça Coronel Ribeiro da cidade, que fico me perguntando o que há no interior de pessoas que "suspeitam" de um cliente pela cor de sua pele ou pelas roupas que veste e ainda se atrevem a chamar a polícia, quando ele e seu filho é que estavam no direito de fazê-lo!!!

Um pai de família honrado, trabalhador, acompanhado de seu filho de apenas dezesseis anos, passar por tamanho constrangimento público e agressões, porque é preto, é negro?! Aliás, foram os dois vítimas da mesma violência, virulência! Onde foi parar a cartilha da educação básica de civilidade que ensina que somos todos iguais, independente de raça, cor, credo, religião, condição?! Desde quando ser negro é ser suspeito de algo? Suspeito de ser um ser humano muito melhor do que muitos de outra cor ou vestimenta, como ele mesmo colocou?! Discriminação, humilhação, sofrimento e quem não chorou junto a ele diante de tal notícia infame, em frente à Tv? Como não se indignar, não se abalar, não se manifestar?! Como não lhes implorar, em nome de todos, perdão?!!!

As desculpas são extensivas à sua esposa, Deizielle de Moura, e a toda sua família! É preciso deixar um beijo no coração desse jovem menino - Deus o livre, proteja e guarde sempre! -, que teve de passar por uma situação para ele no mínimo inimaginável. Você é muito maior e melhor, meu filho, do que aqueles que lhes causaram um momento tão injusto e de tão inesperada, inaceitável dor!

Tenho apenas um tipo de preconceito, sim, mas contra pessoas de mau caráter e coração, que podem ter qualquer tipo de cor - branca, preta, amarela, vermelha -; vestir qualquer tipo de roupa - como um belo terno (...) ou traje de marca, por exemplo, comprado no exterior, made in Paris... -, e são capazes de destratar e desrespeitar pessoas do bem dessa maneira vil, atingindo, na verdade, toda a sociedade, porque me senti igualmente ferida e maltratada!... 

Os preconceitos, já tão deteriorados e contaminados em si mesmos, deveriam ir todos para o cesto de lixo da mente e coração de cada um, dando lugar à igualdade, sob todos os aspectos, que não permite tal brutal intromissão!!


Abaixo o preconceito! De todos os tipos e modos de ação!


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